O Ponto

Ó gente eu vou pro jongo, pra tocar o meu tambu.
Quero dispara meu ponto, como flecha de ticum

Délcio J. Bernardo – Angra dos Reis/ RJ

O Ponto é a flecha...

Um dos elementos mais marcantes do jongo é o ponto. Forma poética e musical expressa nos versos cantados pelos jongueiros, o jongo é o ponto cantado na roda. De acordo com Slenes (2007, p.138), a palavra jongo está ligada à Africa bantu:

(...)O kikongon sõngi quer dizer “ponta, aguilhão, algo pontudo”; `nzòngo significa “tiro de fuzil, carga de pólvora para fuzil”; melhor ainda, a expressão `nzòngo mya`nnua remete a “tiro/combate com a boca, disputa, imitação de um tiro de fuzil com a boca”. Essas palavras ressoam com o umbundu songo, “ponta de flecha, bala”, e ondaka usongo, “a palavra é uma flecha/bala”; relembram em kimbundu songo, significando “pontada”, e a frase adjetival songo sese, “difamatório”; até são similares a di-songa e bisongololwà, respectivamente “flecha” e “palavras acerbas, provocativas”, em luba katanga, a língua dos luba, falada no longínquo interior.  

O ponto de jongo tem alguma relação com o provérbio e com a crônica, por meio da qual se comenta a vida cotidiana, o passado e o presente. Configura-se num conhecimento restrito e secreto, guardado pelos jongueiros velhos, – que ensinam seus conhecimentos aos jovens iniciados. Cada ponto se adequa a determinada circunstância. A poesia metafórica do Jongo permitiu que seus praticantes, por meio dos pontos, se comunicassem de forma que capatazes e senhores não os compreendessem, possibilitando fugas e emboscadas.

Adaptação do texto de Alessandra Ribeiro, 2011 - Comunidade Dito Ribeiro/ SP